Precisamos de mudança, agora!

PARA O BLOGEu e um poste, qual a diferença? Eu e um poste somos iguais. As pessoas passam por nós e não nos notam, não são capazes de nos cumprimentar ou reconhecer o nosso esforço, afinal, o que seriam das ruas sem estarmos por perto segurando uma vassoura? Sim, essa é a nossa arma, esse é o nosso ’ganha pão’, acordamos cedo e tentamos cuidar da limpeza de nossa cidade. Tudo bem que, se fosse pra escolher, eu não escolheria esse trabalho, e digo isso não somente pela mão de obra que nos traz, mas sim pelo modo como somos tratados. As pessoas, sem ao menos se preocuparem com o tal meio ambiente, abrem as mãos e deixam que o plástico, a lata, a sujeira caia no chão. O meu dever é limpá-lo. Me visto de laranja e varro aquilo que virou algo inútil para você, muitos acham que, consequentemente, eu sou inútil. Quando eu estava na 4ª série, o último ano em que eu estudei – ainda lembro vagamente de como se liam as palavras -, a professora disse “aquilo que nós fazemos revela quem nós somos”. Então, fico pensando… Se as pessoas não conseguem enxergar além, se as suas vistas são embaçadas pelo preconceito e eu sou um dos principais alvos dessa indiferença e, se o que nós fazemos é aquilo que nós somos, então, eu sou um lixo. Sou um poste. Ouvir Bom dia? Não, eu não sei como isso é…Devo ter esperança de escutá-lo?


“O Brasil escolheu um caminho errado para chegar à era digital, privilegiou os fabricantes de computadores. Quando de fato entrou no jogo, na década passada, andou rápido. A exclusão social é ruim de qualquer ângulo. É preciso evitar que a nova economia reproduza no Brasil problemas de muitos anos, ou, pior, agrave-os. Pode-se dizer, portanto que o paradigma da nova economia é a internet e seu efeito é uma nova sociedade – a sociedade do conhecimento que valoriza o capital intelectual e os processos de acúmulo e transferência do conhecimento.”(1)

Passando a limpo…


O primeiro texto exposto a cima é apenas um exemplo dos diversos casos e situações em que a mediocridade da opinião alheia faz com que os trabalhadores, não tão bem remunerados, sofram pela indiferença causada por esse tipo de preconceito.

Desde os primórdios da história, a humanidade dividiu os trabalhos entre os habitantes; enquanto um caça, o outro cozinha; enquanto alguns cuidam da parte financeira, outros criam o produto e assim por diante… A partir da Idade Média observa-se a divisão das classes sociais, seguíamos para a tão conhecida ‘pirâmide social’, onde a meta passou a ser alcançar seu topo. A massa, a população carente, a ‘deixada de escanteio’, essa fica embaixo, firme – na medida do impossível -, sustentando todo o resto. No meio, a classe média, cada vez aumentando mais seu número, torcendo para conseguir chegar no alto sabendo que qualquer deslize, qualquer descuido ou precipitação, pode levá-lo para baixo e, ficar no final da pirâmide, ninguém quer. No topo os tais ‘privilegiados’, de acordo com Marx são “a classe dominante, eles controlam direta ou indiretamente o estado.”(2) Podemos talvez concluir que a história da humanidade é a sucessão da luta de classes.

Quando cito a indiferença me refiro também ao egoísmo, a ignorância e frieza pelos quais alguns trabalhadores são obrigados a suportar. Seus rostos são apagados, é como se eles não existissem. Catadores de sucata, garis, motoristas e cobradores, qualquer trabalho que na visão superficial e errônea da elite seja mal-remunerado, é insignificante e, portanto, não merece o mínimo de atenção.

O que está em questão, além do relacionamento entre as pessoas, são as vantagens e desvantagens que cada uma tem. Em primeiro lugar a educação. Estamos assustadoramente acostumados a ouvir que a diferença na escolaridade dos brasileiros é gritante, pesquisas apontam que somente um terço dos brasileiros frequentam diariamente a escola (professores e alunos). O que, pensando nos meios de propagação do conhecimento, nos leva a indagar sobre a internet e como se encontra a sua difusão. O novo meio de comunicação, considerado um dos maiores sistemas de integração mundial que, mesmo sendo ágil e eficaz, alcança um número determinado de acessos, criando mais um tipo de exclusão, a exclusão digital e, esta “diz respeito às conseqüências sociais, econômicas e culturais da distribuição desigual do acesso a computadores e Internet. Exclui-se, portanto, o acesso à telefonia.“(3) Aumenta o patamar que determina o índice de pobreza de uma pessoa, agora, a alfabetização digital tornou-se extremamente importante.

Voltando para as vantagens e desvantagens citadas no parágrafo anterior, não podemos esquecer da influência da mídia sobre as pessoas. A primazia demonstrada pela televisão, pelos noticiários especificadamente, é impressionante. Bom ou ruim? O fato é que nós precisamos da informação, seja ela qual for. Porém, a partir do momento em que ela – a informação – passa a ser encoberta por outros eventos, ação conhecida como “efeito paravento”, percebemos que, de acordo com o livro ‘A tirania da comunicação’ de Ignácio Ramonet, “a informação tornou-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado, não comprometendo-se com respeito aos cidadãos e à ética.”(4) A comunicação se tornou um império vulgar e manipulador que almeja a conquista do maior número de espectadores.

Portanto, é possível associar a negligência – que inquieta o sentimento da pessoa menos favorecida monetariamente, prejudicando a sua auto-estima e piorando a situação em que ele se encontra -, consequência do capitalismo e, dessa forma, da luta entre as classes sociais, com a falta de escolaridade e de oportunidades, nos evidenciando dessa forma que a exclusão social também está associada a exclusão digital e à manipulação das informações e da opinião do cidadão. O que deve ser feito para impedir tais acontecimentos seria a integração de algumas ações de modo a atender respeitosamente as necessidades da sociedade e colocando fim a essas desigualdades. Com as realidades expressas nesse texto, fica claro que as organizações não se podem dar o luxo de empurrar o novo com a barriga. Precisamos de mudanças, agora.

Catharina Guedes


***
(1) – http://www.iets.org.br/biblioteca/Exclusao_digital_um_problema_tecnologico_ou_social.pdf

(2)- http://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_social

(3)- http://www.eci.ufmg.br/bogliolo/downloads/SORJ%20e%20GUEDES%20Exclusao%20digital%20politicas%20publicas.pdf

(4) – Livro ‘A tirania da comunicação’ de Ignácio Ramonet

Imagem – http://2.bp.blogspot.com/_QcfhNo3uPkA/SKc_V0rpjfI/AAAAAAAAAC8/IlesQ35CWcs/s320/cego.jpg

2 Respostas to “Precisamos de mudança, agora!”

  1. bom texto, e concordo que é necessário mudar, mas como? Que mudancas vcs sugerem?

  2. Olá pessoal do Rascunho!
    Li os posts, apreciei o design do blog, observei as temáticas pertinentes e os uso das ferramentas (que não foram tantas, mas o suficiente).
    O maior mérito de vocês é a linha editorial do blog. Vocês permanecem focadas, não se dispersaram e aproveitaram as discussões em sala para fazer os “ganchos”. A pesquisa também é outra característica importante. Deu trabalho, mas acho que depois desse blog vcs não serão as mesmas.
    abs, Marli

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